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Abrir um novo negócio ou manter o atual? Veja dicas de especialistas

Postado em: 10 de August de 2020 às 11:11 Por Redação

Confira orientações para manter seu empreendimento e saiba se é hora de apostar em um novo negócio

O início de 2020 trazia a expectativa de que este fosse um dos melhores anos da década para o setor de alimentação, que engloba desde vendas por encomenda e vendas ambulantes até restaurantes, pizzarias, confeitarias e demais estabelecimentos. De acordo com a Food Consulting, consultoria especializada no setor, a projeção de crescimento real para o ano era de 4.8%. No entanto, a chegada do período de isolamento social, em março, trouxe a necessidade de revisar as estimativas, e a projeção passou a ser de queda de 30% até o final do ano.

O cenário instável de toda a economia gera as mais diferentes reações nos empreendedores do setor: enquanto boa parte das pessoas que já possuem um negócio faz as contas “na ponta do lápis”, com direito a todo tipo de redução de despesas, para manter seus negócios em funcionamento, outros se viram diante da impossibilidade de manter a operação dos seus empreendimentos. Há, ainda, potenciais empreendedores que vêm buscando oportunidades no atual momento para abrir um novo negócio.
COMO MANTER AS ATIVIDADES DO MEU NEGÓCIO

Cabe destacar que os dados da Food Consulting também apontam que 20% dos estabelecimentos de alimentação fora do lar já fecharam as portas, e de 20 a 30% do restante terão dificuldade para permanecerem em funcionamento nos próximos meses. Considerando que a maioria dos empreendedores do setor deverá manter seus negócios, vale observar quais são as principais recomendações de especialistas do setor em termos de adaptação.

Para Fáimon Coutinho, consultor empresarial na McBenner Consultoria, as principais adaptações que negócios de alimentação vêm colocando em prática para superar o atual momento são redimensionar a equipe, readequar o cardápio com foco nos produtos que têm maior saída (especialmente aqueles que contam com bom desempenho no delivery) a fim de reduzir custos e trabalhar com estoques menos diversificados, e principalmente a aceitação do novo modelo de vendas, com total dependência dos canais digitais e imersão nos novos mecanismos de interação com clientes. “A venda no ambiente on-line é diferente e, muitas vezes, depende de alterações na linha de produtos, no desenvolvimento de embalagens, na readequação da equipe e em maior demanda por ações de marketing digital. Tenho acompanhado muitas boas histórias nesse sentido dentro do mercado de alimentação”, afirma.

Coutinho também destaca que a saúde financeira é o verdadeiro “calcanhar de Aquiles” do empreendedor brasileiro, responsável por potencializar os impactos econômicos da pandemia: “Muitas vezes, quem agora pensa em encerrar o seu negócio não é exclusivamente por ter que encarar uma redução nas receitas por conta da crise, mas é porque esse problema já vinha se acumulando desde antes da pandemia. A saúde financeira das pequenas empresas brasileiras já não ia bem. O empreendedor que deseja manter seu negócio em atividade precisa confrontar sua atual visão de negócio com visões alternativas, e principalmente, confrontar sua capacidade financeira de fazer a mudança acontecer. Infelizmente, para muitos, mesmo diante de oportunidades, a capacidade de financiamento não estará mais disponível e é a hora de abrir mão de um projeto anterior.

A consultora em gestão estratégica de operações do setor de alimentação fora do lar, Elis Cavalcante, também reforça a importância do aspecto financeiro para a retomada dos negócios. “Ter poucos itens no cardápio, mas que sejam atraentes para o maior número de clientes possível, é essencial. Além disso, é importante simplificar processos, ter uma equipe enxuta, espaços de baixo custo, além de novos produtos com custos reduzidos e preços atrativos, e foco em canais de divulgação para garantir vendas constantes. Nesse momento é ainda mais importante controlar os custos com muito critério”, observa, desaconselhando a busca por empréstimos bancários sem que haja uma estratégia clara de alavancamento de vendas.

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Maioria dos negócios de alimentação tende a manter o funcionamento, porém é essencial readequar as operações com prioridade ao aspecto financeiro

VALE A PENA INVESTIR EM UM NOVO NEGÓCIO AGORA?

Os próximos meses ainda serão de baixa circulação de pessoas e com mais pessoas se alimentando em casa. Quem deseja iniciar um novo negócio de alimentação agora, além de entender perfeitamente o cenário instável e desafiador, deve estar a par da nova forma que o consumidor vem lidando com o consumo de alimentos.

De acordo com uma pesquisa divulgada em julho pela Galunion, empresa de consultoria para negócios de alimentação fora do lar, nos próximos seis meses metade das pessoas empregadas continuará trabalhando em casa, ainda que em dias alternados. Com isso, 93% pretende fazer a própria comida nos dias em que estiver em home office, e 86% consideram pedir alimentos por delivery. Quando forem ao local de trabalho, 78% afirmaram que levarão comida de casa, enquanto 69% declararam que farão pedidos por delivery e 44% informaram que devem buscar comida em restaurantes. Almoçar em restaurantes, lanchonetes e estabelecimentos semelhantes é apontado por 29% dos participantes da pesquisa.

Os dados mostram transformações significativas no comportamento do consumidor, e quem deseja começar um empreendimento deve considerar em primeiro lugar a forma com que seu negócio será capaz de gerar vendas dentro dessas alterações de consumo. Elis Cavalcante aponta as dark kitchens – empreendimentos que possuem apenas a cozinha e comercializam somente por delivery, sem salão para atendimento – como um modelo de negócio que deve ganhar força daqui para a frente.

A consultora orienta aos futuros empreendedores que, em primeiro lugar, considerem quem será seu público-alvo e montem um plano de negócios baseado na satisfação das necessidades desse grupo de pessoas. “É preciso estudar o perfil de comportamento do consumidor, entendendo também especialmente quanto esse consumidor tem de renda disponível para consumir alimentos e com qual frequência. Só depois vem o segundo estágio da construção de um negócio, que é pensar no produto”, explica Elis. Ela aponta também a importância de considerar os elementos que compõem a chamada “economia de baixo contato”, termo criado pelo Instituto Board of Inovation e que se refere à relação de compra e venda sem contato físico a partir da pandemia do novo coronavírus. “Nessa tendência de diminuição do contato entre o cliente e a empresa, é preciso repensar sobre salão, garçom, ambientação e música; tudo isso tem sido substituído por aplicativos, embalagens, agilidade e comunicação digital. A tecnologia passa a ser a maior aliada do empreendedor no caminho de sucesso, e para isso é fundamental saber como captar clientes pelos canais digitais.”

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