O empreendedorismo negro no Brasil tem se destacado como uma potente ferramenta de transformação econômica e social.

Para muitos, como a empreendedora Mônica Alves Ribeiro, da Cervejaria Preta Bela, essa jornada vai além de abrir um negócio – trata-se de resistência, superação e a busca por independência em um país onde as barreiras para pessoas negras ainda são profundamente enraizadas.

Mônica é professora, mãe e empreendedora. Suas motivações para começar nesse caminho são um reflexo da realidade de muitas pessoas negras no Brasil: "Não vim de família rica, e a grande maioria dos professores precisa de uma renda extra. Só o salário do professor não dá conta", explica. Apesar dos desafios, ela decidiu apostar em uma área predominantemente masculina e ainda carregada de preconceitos: a fabricação de cerveja. "É muito difícil você ver uma cervejaria de uma mulher que alavancou", ressalta Mônica, destacando as dificuldades em se estabelecer nesse setor.

Um dos maiores obstáculos enfrentados por Mônica foi o acesso a crédito.

Ela nunca conseguiu um financiamento e começou pequena, guardando o que ganhava nos eventos e reinvestindo no próprio negócio. “Eu sou pessoa física, e como professora, fui guardando o dinheiro que conseguia, porque não tive acesso a crédito”, conta. O caminho é árduo, e ela ainda vê que muitos empreendedores negros enfrentam obstáculos semelhantes. "Nós tentamos, queremos fortalecer, mas muitas vezes não ganhamos o suficiente, e é difícil vender nossos produtos pelos preços que merecemos", diz.

O poder da visibilidade e apoio

Mônica enxerga o empreendedorismo negro como uma ferramenta crucial para o fortalecimento econômico da comunidade negra, mas observa a falta de apoio e visibilidade. “Antigamente, não existia visibilidade para o povo preto. Hoje, temos iniciativas como a Rede Nós por Nós, onde nós mesmos nos ajudamos e divulgamos nosso trabalho”, celebra Mônica.

Para ela, é fundamental que mais iniciativas como essa surjam, possibilitando que o empreendedorismo negro tenha o destaque que merece. No entanto, ela ainda aponta a dificuldade em acessar editais e políticas de incentivo: "Muitas pessoas não têm tempo de ler e entender editais longos e burocráticos."

As barreiras enfrentadas por Mônica vão além das questões financeiras. Ela relata episódios de preconceito em eventos, onde muitas vezes as pessoas ignoram sua posição de liderança por ser mulher e negra. "Quando eu vou vender a cerveja com o meu companheiro, todos os homens perguntam para ele, não para mim", revela. Mas isso nunca a impediu de continuar, e ela vê na internet e nas redes sociais uma grande aliada para aumentar a visibilidade de empreendedores negros.

O caminho a seguir

Quando perguntada sobre as ações necessárias para fortalecer o empreendedorismo negro, Mônica enfatiza a importância de espaços de compartilhamento e visibilidade para pessoas negras.

Ela acredita que esses espaços permitem que outros empreendedores possam mostrar de onde vêm e o que fazem. Para aqueles que estão começando, ela é realista, mas motivadora: "Não é fácil empreender no Brasil, ainda mais sendo preto. Você sempre vai ter que provar que é capaz e carregar nas costas a responsabilidade de ser mais do que esperam de você", conclui, deixando um conselho para os novos empreendedores: "Persista, saiba o que você vale, e nunca pare de lutar pelo seu espaço."

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