Afronegócio
A GASTRONOMIA PRETA COMO INSTRUMENTO DE FORTALECIMENTO ECONÔMICO
Postado em: 10 de Abril de 2025 às 10:41
A gastronomia sempre foi um elo entre passado, presente e futuro. Para mim, essa conexão começa com a história da minha bisavó, uma mulher negra e semi-analfabeta, mas dotada de uma inteligência econômica e cultural inestimáveis.
Com saberes, mãos habilidosas e sabedoria ancestral, ela começou vendendo coxinhas, depois expandiu para marmitas e, assim, construiu uma fonte de renda para sustentar a nossa família. E ela fez isso, sem nunca ter estudado precificação ou estratégias de marketing. Digamos que “intuitivamente”, bem entre aspas mesmo, sabia calcular custos, definir preços justos, gerir a sua equipe, a família no caso, e se comunicar com a clientela de forma precisa e eficiente.
Foi essa história - e claro, compartilhar dessa vivência - que me inspirou a criar a Feira Preta, um ecossistema que fomenta, visibiliza e celebra a criatividade e o empreendedorismo negro. Assim como minha bisavó, milhares de mulheres negras no Brasil utilizam seus saberes ancestrais na gastronomia como estratégia de inclusão produtiva, reinventando receitas, fortalecendo suas comunidades e movimentando a economia criativa.
A culinária afro-indígena é um dos pilares dessa economia. Ingredientes como o dendê, o inhame, o milho e as ervas medicinais carregam histórias de resistência e identidade. Os processos de criação, produção, distribuição e consumo na gastronomia negra são atravessados por uma visão de mundo em que a comida é mais do que alimento: é estilo de vida, memória, espiritualidade, é um ato político.
As mulheres negras são protagonistas nesse cenário, aplicando seus conhecimentos em gestão de negócios de forma intuitiva e sofisticada. Elas constroem redes de apoio, criam produtos inovadores e ocupam espaços no mercado de forma estratégica. No Brasil, a economia preta se estrutura a partir desses saberes e da força dessas mulheres, que fazem do cotidiano uma arena de sustentação financeira e afirmação identitária, desde os tempos das ganhadeiras que hoje são conhecidas como as Mulheres do Tabuleiro, empreendedoras, principalmente negras, que atuam no comércio ambulante e na venda de alimentos em tabuleiros, uma prática tradicional em diversas regiões do Brasil, especialmente na Bahia. Elas representam um importante pilar da economia informal e da preservação cultural afro-brasileira.
O termo tem forte relação com as baianas de acarajé, que carregam seus tabuleiros vendendo quitutes de origem africana, como o acarajé, abará, cocadas e outros pratos típicos. Essas mulheres não apenas garantem seu sustento, mas também são guardiãs de saberes ancestrais e da religiosidade afro-brasileira, pois o acarajé, por exemplo, tem origem nas oferendas a divindades do candomblé.
A Feira Preta, ao longo dos anos, tem sido um palco fundamental para essa transformação. Um dos grandes exemplos é o Feira Preta Cria: Gastronomia (antigo Afrolab Gastronomia), criado em 2017. Um programa desenvolvido para apoiar empreendedoras negras no setor gastronômico. A iniciativa proporcionou capacitação, conexão com o mercado e visibilidade para negócios que emergem da ancestralidade e da criatividade negra. Muitas das participantes do Afrolab desaguaram na praça de alimentação do Feira Preta Festival, onde puderam testar seus produtos, fortalecer suas marcas e alcançar novos clientes.
Esse movimento tem gerado frutos significativos. Algumas empreendedoras que passaram pelo Afrolab foram além e ganharam destaque nacional, vencendo prêmios em reality shows de gastronomia, como os exibidos no canal GNT. Essas conquistas não apenas validam a potência dos saberes ancestrais aplicados na gastronomia, mas também demonstram a relevância econômica e cultural desse setor para a inclusão produtiva da população negra.
Além deste programa da Feira Preta, há outros grandes exemplos de mulheres negras que têm transformado o setor gastronômico no Brasil. Carmem Virginia, do Restaurante Altar Cozinha Ancestral, com unidades em Recife (PE) e São Paulo (SP), tem resgatado a sabedoria culinária ancestral em pratos sofisticados e repletos de história. Solange Borges, da Culinária de Terreiro, em Camaçari (BA), no Rio de Janeiro, o Bar e Restaurante da Dida. Todos são espaços que conectam gastronomia, cultura e resistência negra, criando experiências que vão muito além do paladar.
Nos últimos anos, a Feira Preta tem contado com o apoio do Instituto Assaí, por meio da plataforma Afronegócio, da Academia Assaí. Essa parceria tem sido fundamental para impulsionar a gastronomia negra e fortalecer a inclusão produtiva de empreendedores negros. Em 2025, essa colaboração se expande ainda mais com o lançamento de um novo projeto que inclui um curso on-line com 5 episódios que se aprofundam nos processos de criação, produção, distribuição e consumo, artigos mensais assinados por chefs renomados do Brasil e a criação do Feira Preta Cria: Gastronomia, que terá edições em Belém (PA), Salvador (BA) e São Paulo (SP).
Além disso, o projeto 2025 também contemplará mais edições da Feira Preta Degusta, uma feira de produtos e serviços específicos de gastronomia, em Cachoeira (BA), fortalecendo a conexão entre tradição e inovação na culinária afro-brasileira na região do Recôncavo Baiano. Como parte desse compromisso social, também será realizada a distribuição de cestas básicas em quilombos de Cachoeira, reforçando a dimensão solidária dessa iniciativa.
Investir na gastronomia negra significa fortalecer a inclusão produtiva e o desenvolvimento econômico de um país mais diverso e justo. Para empresas, marcas e consumidores, apoiar esses negócios não é apenas uma questão de responsabilidade social, mas uma estratégia econômica inteligente, pois valoriza uma cadeia produtiva rica em saberes e inovadora em suas soluções.
Assim como minha bisavó transformou sua realidade por meio da comida, muitas outras mulheres negras seguem esse caminho, provando que a gastronomia é um vetor poderoso de mudança social e econômica.
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