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Empreender na terceira idade: parar por quê?
Postado em: 03 de March de 2020 às 14:24 Por Redação
Empreender na terceira idade é uma escolha cada vez mais comum. Entenda os benefícios de abraçar esse desafio após a aposentadoria
A professora aposentada de História Neiva Carvalho da Silva, de 62 anos, levanta todos os dias às cinco horas da manhã, passa um café preto, conversa com Deus, acorda sua mãe, Dona Irani, de 92 anos, e a leva à instituição de cuidado em que passa o dia. Depois, os esforços vão para o seu próprio negócio: a marca de massa de pão de queijo Vó Nenê.
A inspiração para o nome do empreendimento veio toda de Dona Irani. A ideia de criar a marca surgiu quando Neiva voltou ao Brasil, depois de morar uma década fora. Quando chegou ao país, visitou um familiar que possui uma fábrica de pães de queijo em Porto Velho/RO. Lá, aprendeu todas as etapas do processo de produção. Já na cidade de Maringá/PR, onde mora, encarou o desafio de empreender.
Ela garante que investir no mercado de alimentação é uma boa pedida e o motivo é simples: “Roupa dura muito. Comida não”, brinca. Atualmente, sua produção é de 80 quilos por dia e seu principal cliente é a unidade de uma rede de supermercados da cidade.
Os planos para o futuro são ambiciosos. Em 2020, além de construir uma estrutura no terreno localizado ao lado de sua casa para abrigar o maquinário, Neiva pretende começar a vender o pão de queijo Vó Nenê na modalidade porta a porta. “Se depender de mim, daqui a dois ou três anos, a marca vai para além de Maringá”, diz. A meta é chegar a três mil quilos diários. Questionada se não pensou em descansar depois da aposentadoria, Neiva afirma: “Eu não gosto. Sinto uma dor no corpo se ficar parada.”
EMPREENDER NA TERCEIRA IDADE É UMA TENDÊNCIA
Um estudo divulgado pelo Sebrae em 2019 a partir da pesquisa Global Entrepreneurship Monitor aponta que 7% dos empreendedores brasileiros têm mais de 65 anos. E esse número tende a aumentar nos próximos anos. De acordo com o IBGE, o número de idosos no Brasil deve dobrar até 2042, chegando a 57 milhões de pessoas. Um em cada quatro brasileiros terá mais de 60 anos e a tendência é que o empreendedorismo esteja cada vez mais presente nessa fase da vida.
Empreender na terceira idade, contudo, requer alguns cuidados. O gestor da linha estratégica de empreendedorismo do noroeste do Paraná no Sebrae, Perseu Bastos, falou com exclusividade à Revista Assaí Bons Negócios sobre os desafios e as possibilidades de iniciar um negócio nessa fase da vida.
Assaí Bons Negócios: Por que, após a aposentadoria, cada vez mais idosos apostam no empreendedorismo?
Perseu Bastos: Há diferentes fatores, como o aumento da expectativa de vida e o número de possibilidades. Hoje, é possível ter uma qualidade de vida muito melhor não só no aspecto da saúde, mas também no de acesso à informação. Quanto mais informação se tem, mais possibilidades se vê. Por outro lado, nem sempre a aposentadoria que o idoso tem é suficiente e, muitas vezes, quem está aposentado já empreendeu lá atrás de alguma forma. A pessoa acaba desenvolvendo um dinamismo. Ela está mais segura de si, sabe do que não gosta e está mais disposta a correr atrás do que quer.
ABN: Que características da população idosa são compatíveis com o mundo do empreendedorismo?
PB: A experiência, independentemente de ser com negócios. Você tem experiência de vida – e negócios são sempre de pessoas para pessoas. Com mais vivência, você consegue entender melhor as pessoas e a dinâmica de certos pontos. Ao mesmo tempo, tem mais calma para tomar decisões e aceita correr mais riscos, porque sabe lidar melhor com adversidades e diferentes contextos. Além disso, algumas pessoas acabam buscando um novo mundo. O momento da aposentadoria gera essa “quebra” na vida da pessoa. Ela pensa: “o que eu vou fazer?” E o empreendedorismo é um excelente caminho.
ABN: Quais são os desafios de empreender na terceira idade?
PB: Um dos desafios é entender um mundo que funciona mais rápido. Hoje, é o cliente quem lança as demandas e aí a gente produz. Não é mais aquela lógica de massificação. Entender esse novo mundo é o primeiro e maior desafio. Para isso, é necessário buscar informação. Aproximar-se ou ter um sócio mais atualizado ajuda bastante. E, como todo empreendedor, é fundamental ter o apoio da família. Para quem está na terceira idade, muitas vezes, a família coloca mais barreiras, pedindo para a pessoa descansar. Mas ela não quer descansar, ela quer viver, ela quer se desenvolver, fazer algo relevante. E o terceiro maior desafio tem a ver com o relacionamento com o cliente. A lógica agora é bem diferente, porque, hoje, você tem dois mundos que se misturam: o digital e o analógico. O relacionamento vem primeiro e o produto vem depois.
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